Aeroporto de Guarapape, Elias Souza, sem acessibilidade |
Os entraves no dia a dia de quem não mede mais que 1,45 metro aparecem em situações absolutamente corriqueiras para outras pessoas. Nos supermercados, as prateleiras são altas demais; nos ônibus, quando a campainha de botão não funciona, o jeito é apelar para a solidariedade de desconhecidos para pedir parada; nas agências bancárias, é quase impossível utilizar sozinho o caixa eletrônico. Isso sem contar com a escassez de orelhões adaptados, com os degraus altos de escadas e tantas outras situações. Mas nada que os impeça de viver plenamente, garantem.
Elias Sousa, 40 anos, tem um trabalho que, à primeira vista, pode parecer incompatível com seu tamanho. Ele é carregador de bagagem no Aeroporto Internacional dos Guararapes e assegura: consegue carregar tanto peso quanto qualquer outro colega de estatura normal. Ele relata que sua deficiência nunca foi vista como um empecilho. Baixa autoestima? Que nada! Com 1,30m, Elias vive de bem com a vida.
Orgulhoso de sua independência, sua baixa estatura só incomoda quando ele precisa da ajuda de terceiros para realizar tarefas simples. “É chato ter que pedir para alguma pessoa puxar a cordinha do ônibus para mim. O ideal era que tivesse uma cordinha mais baixa”. Outra grande dificuldade é o momento de usar caixas eletrônicos. “Tenho que pedir pra algum funcionário do banco inserir meu cartão na máquina. Seria bom se houvesse mais plataformas de elevação”, observa Elias.
Segundo ele, houve poucos casos de discriminação durante sua vida. O fato contribuiu bastante para a aceitação da deficiência. Quando perguntado se pretende casar, Elias é rápido: “Ainda não. Sou novo para isso”, retruca.
Já o assistente administrativo Olavo Pereira, 28 anos, não tem problemas em manter relacionamentos duradouros. Já está em seu terceiro namoro sério, e todos com mulheres de estatura normal. “As pessoas na rua olham sim. Desperta curiosidade ver um homem baixinho namorando um mulherão”, diverte-se o jovem de 1,32m.
As principais dificuldades relatadas por ele são quase as mesmas de Elias. Pedir parada no ônibus figura como a principal queixa. Olavo acrescenta que utilizar o mictório também pode se tornar um problema. “Na maioria das vezes eles são muito altos. Ai eu uso o banheiro convencional mesmo. É mais cômodo”.
Na hora de comprar roupas, Olavo costuma frequentar o setor adulto. “Compro e depois mando ajeitar o comprimento. Principalmente das calças, já que a cintura é a mesma de uma pessoa de altura normal. A diferença são as pernas”.
Segundo ele, a consciência de que era diferente das outras crianças chegou aos 6 anos de idade. “Foi complicado para aceitar no início. Não gostava quando as pessoas olhavam e riam. Mas com a idade foi ficando mais fácil. Me aceitei e aprendi a conviver com a minha altura”
No emprego, qualquer desconfiança inicial provocada por seu tamanho foi dissipada em pouco tempo. Eficiente e gente boa, conquistou rapidamente todos os companheiros de trabalho. “Afinal, eu sou uma pessoa normal, a diferença é que sou baixinho”, finaliza Olavo.
Saiba mais
De acordo com a geneticista Daniela Vilar, o nanismo é uma questão complexa, pois várias alterações genéticas podem provocar a baixa estatura acentuada. Os tipos mais comuns são a acondroplasia e a hipocondroplasia, desenvolvidas normalmente pela deficiência da enzima responsável pela absorção do hormônio do crescimento. Consideram-se anão homens com altura inferior a 1,45m e mulheres que medem menos de 1,40m.
Não é necessário que haja casos na família para que um bebê nasça com nanismo, embora ter antepassados anões signifique maiores chances de que isso ocorra. A partir dos 5 meses de gestação já dá para identificar se o bebê sofre de alguma alteração de estatura.
As principais consequências clínicas da acondroplasia e a hipocondroplasia são a compressão da médula espinhal, a dificuldade em respirar e as dores nas articulações. Ainda pode haver a perda de algumas funções, como o ato de pegar objetos, dificultando a mobilidade.
“Na maioria das vezes, os ossos param de crescer, permanecendo com um tamanho reduzido, e os órgãos continuam se desenvolvendo normalmente. Isso causa compressão, pois não há espaço suficiente para os órgãos”, diz a geneticista.
Já existem tratamentos e cirurgias que atuam na redução das consequências do nanismo ou que proporcionam um aumento na estatura. Há ainda outros métodos em desenvolvimento. “O tratamento mais adequado, ou mesmo se algum método surtirá efeito, são questões que só podem ser ditas após uma avaliação do paciente”, diz Daniela.
Diário de Pernambuco
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