LEGISLATIVO NA TRANSPARÊNCIA DAS VOTAÇÕES
Com o apoio do PT e dos senadores "independentes", a CCJ (Comissão de
Constituição e Justiça) do Senado aprovou nesta quarta-feira o fim do
voto secreto no Congresso Nacional. Embora parte dos senadores defenda a
votação aberta apenas nas cassações de mandatos dos congressistas, a
maioria dos integrantes da comissão entendeu que o Legislativo precisa
dar transparência a todas as suas votações.
A PEC (proposta de emenda constitucional) segue agora para o plenário do
Senado, que deve votá-la ainda hoje. Se o plenário não mudar a
proposta, ela vai à promulgação --uma vez que a já foi aprovada pela
Câmara.
O PMDB e parte da oposição no Senado são contrários à abertura total dos
votos no Legislativo. O grupo defende que as indicações de autoridades
do Executivo e os vetos presidenciais continuem sendo analisados pelo
Congresso em votações secretas. A Constituição Federal estabelece
atualmente o voto secreto para essas duas hipóteses, além da cassação
dos mandatos dos deputados e senadores.
"Assumo minha posição, eu voto contra. Me coloco na contracorrente desse
oba oba institucional que estamos vivendo", disse o líder do PSDB,
Aloysio Nunes Ferreira (SP). O argumento do tucano é que os
congressistas precisam de independência para analisar vetos e indicações
da presidente da República, sem a pressão do Executivo.
A votação foi marcada por muita confusão na CCJ. Relator da PEC, o
senador Sérgio Souza (PMDB-PR) havia sugerido inicialmente o fim do voto
secreto em todas as votações do Legislativo. Voltou atrás na manhã de
hoje e apresentou nova proposta defendendo o voto aberto apenas nas
cassações dos congressistas.
Pressionado pelos integrantes da comissão, Souza mudou novamente de
posição e manteve o primeiro relatório em que recomendou o fim do sigilo
em todas as votações do Legislativo.
"Eu retiro o meu voto de hoje, mantendo o voto da semana passada. Minha
posição é pelo voto aberto em todas as situações do Congresso Nacional. O
que percebi na última quarta-feira foi que grande parte dos senadores
não concordava com o fim do voto secreto em todas as situações, mas
apenas na cassação de parlamentares", justificou Souza.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), defende o fim do voto
secreto apenas nos casos de cassações. Renan agiu nos bastidores para
convencer Souza a mudar seu relatório. O peemedebista defende o
"fatiamento" da PEC, com a aprovação do voto aberto nas cassações, mas
mantendo o sigilo nos demais casos --que continuariam a tramitar no
Congresso em outras propostas.
O novo relatório de Souza propôs o fatiamento, mas como o próprio
relator mudou de posição, a proposta acabou prejudicada. O Senado já
havia aprovado o fim do voto secreto nas cassações diante da falta de
consenso sobre a proposta mais ampla.
Os deputados aprovaram o fim do voto secreto no Legislativo há duas
semanas, depois que absolveu o deputado Natan Donadon (sem partido-RO)
em votação secreta. O parlamentar foi condenado pelo Supremo Tribunal
Federal (STF) e está preso na Papuda, Penitenciária de Brasília.
DEFESA
O apoio da bancada do PT ao voto aberto no Congresso permitiu a
aprovação da proposta na comissão, aliado à divisão nos outros partidos
sobre o sigilo nas votações do Legislativo. Embora a oposição defenda a
manutenção do voto secreto para vetos e indicações de autoridades, a
posição não é unânime no DEM e PSDB, nem no PMDB --mesmo com a atuação
de Renan.
"Quem tem que ter sigilo do seu voto é o eleitor. Mas na representação
popular, isso é instrumento descabido. É o avesso do avesso", disse o
peemedebista Ricardo Ferraço (PMDB-ES).
"Eu vou votar pelo voto aberto, vou me render ao sentimento da
sociedade", disse José Agripino Maia (DEM-RN), que inicialmente era
favorável a parte dos votos secretos.
Líder do governo no Congresso, José Pimentel (PT-CE) disse que o
Congresso tem a "obrigação" de acabar com o voto secreto porque nem a
análise do impeachment do presidente da República ocorre de forma
sigilosa. "Nos crimes de responsabilidade contra o presidente, é voto
aberto. Se não fosse, não teríamos impeachment nos anos 90", afirmou.
A pressão popular também fez com que diversos senadores apoiassem o fim
do sigilo nas votações. O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) disse que
recebeu "centenas de ligações" de eleitores nos últimos dias pedindo o
fim do voto secreto no Legislativo. No gramado em frente ao Congresso,
um grupo de manifestantes seminus fez protestos nesta manhã em defesa da
abertura total dos votos dos parlamentares.
Via Folha de S.Paulo
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