PROCESSO LONGO, DURAÇÃO MÉDIA MAIS DE UM MÊS
O ministro do Supremo Tribunal Federal José Antônio Dias Toffoli vai
participar do julgamento do mensalão, que começa na quinta-feira, 2, e
deve durar mais de um mês. Em conversas reservadas, Toffoli disse não
ver motivos para se declarar impedido. Acrescentou que a pressão para
ficar de fora só o estimulou a atuar no caso.
Amigo do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para quem também não há motivos
de impedimento, e do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu – apontado
pelo Ministério Público como "chefe da quadrilha" do mensalão –, Toffoli
construiu sua carreira jurídica dentro do PT.
Ele foi advogado do
partido – destacando-se na liderança petista na Câmara dos Deputados nos
anos 1990, e na consultoria de campanhas eleitorais –, assessor
jurídico da Casa Civil quando o ministro era Dirceu e advogado-geral da
União do governo Lula.
Antes de assumir a cadeira no Supremo,
Toffoli também atuou como advogado do próprio Dirceu em algumas
ocasiões. Até 2009, ele era sócio no escritório da advogada Roberta
Maria Rangel, hoje sua namorada, que defendeu outros acusados de
envolvimento no mensalão, como os deputados Professor Luizinho (PT-SP),
então líder do governo, e Paulo Rocha (PT-PA).
Indicado para
assumir a presidência do Tribunal Superior Eleitoral em 2014, Toffoli se
diz contrariado com as dúvidas lançadas sobre sua isenção –
questionamentos são feitos desde que tomou posse no STF em 2009. "Eu já
estou participando desse processo. Não vou sair de jeito nenhum", disse o
ministro, segundo relato de um interlocutor.
Toffoli já analisou, por exemplo, recursos de advogados de defesa dos réus nessa fase anterior ao início do julgamento de fato.
Sinalização.
O presidente do STF, Carlos Ayres Britto, afirmou na segunda-feira, 30,
que a participação do colega na análise de questões relativas ao
processo do mensalão indica que ele não vai se declarar impedido. "Não
me compete opinar sobre nada, se ele vai ou se não vai (julgar o
mensalão), e não quero ser mal interpretado. Agora, isso (participar de
etapas anteriores) sinaliza participação. Sem dúvida", disse na segunda
em Brasília o presidente do Supremo.
Não há pressão na Corte para
que ele não julgue o caso. Nos bastidores, os comentários são de que o
Supremo é movido "por espírito de corpo" e, portanto, outros integrantes
da Corte, também com ligações políticas, poderiam ser alvos de
suspeição e sofrer o mesmo constrangimento caso Toffoli fique fora.
Exemplos.
Na tentativa de desqualificar a pressão sobre Toffoli, dirigentes
petistas ressuscitaram a filiação de Ayres Britto ao PT nos anos 90.
Lembraram, por exemplo, que ele foi candidato a deputado federal pelo PT
de Sergipe, em 1990, e, na época, mantinha ótimo relacionamento com
Dirceu. Hoje, o voto de Britto é computado pelo partido na lista dos
contrários ao ex-ministro.
Para Marco Aurélio de Carvalho,
coordenador jurídico do PT, há "incoerência" em relação à cobrança sobre
a participação do ministro. "Os mesmos critérios levantados deveriam
ser arguidos em relação ao ministro Ayres Britto", afirmou Carvalho.
Advogados
ligados ao PT afirmam, ainda, que, se a pressão valesse para todos, a
presença do ministro Gilmar Mendes, indicado ao Supremo pelo
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, também poderia ser contestada,
pois ele conversou sobre mensalão com Lula, testemunha no processo. A
reunião ocorreu em abril, no escritório de Nelson Jobim, ex-titular da
Defesa. Segundo relato de Mendes, o ex-presidente o teria presionado
para adiar o julgamento. Lula nega.
Pedido. Sem ligação com o
processo, o advogado Paulo Magalhães Araujo, que comanda uma ONG, pediu
na segunda-feira a suspeição de Toffoli em petição encaminhada ao
Supremo. Como não é presentante de nenhum dos réus do caso, o pedido
deve ser ignorado pelos ministros.
O ESTADÃO
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